Método em estudo para atrasar a chegada da menopausa

Com a chegada da menopausa, ondas de calor, irregularidade menstrual, secura vaginal, oscilações do humor e do sono passam a fazer parte da vida de muitas mulheres. De acordo com a Febrasgo (Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia), o tratamento abrange terapia hormonal, alguns medicamentos para minimizar os sintomas e intervenções não farmacológicas, como aconselhamento nutricional, exercícios físicos e suporte psicológico.

Mas pesquisadores estão atrás de outra solução. Eles estudam a possibilidade de adiar essa fase da vida —que geralmente acontece em mulheres a partir dos 40 anos, por meio de uma técnica usada para restaurar a fertilidade em pessoas que passam por quimioterapia ou que entram precocemente na menopausa.

A ideia do novo método em estudo é coletar e congelar tecido ovariano enquanto a mulher ainda é jovem, e anos depois transplantá-lo aos poucos de volta, com a intenção de restaurar a produção de hormônios —adiando, assim, o início da menopausa, potencialmente por muitos anos.

Publicada no dia 4 de janeiro no periódico no American Journal of Obstetrics and Gynecology, uma pesquisa sobre o tema estima que o reimplante de pequenas porções dos próprios ovários congelados a cada poucos anos poderia manter as flutuações hormonais cíclicas que causam a menstruação.

“A medicina está explorando formas de retardar a menopausa, já que seus sinais e sintomas frequentemente impactam o bem-estar das mulheres de maneira significativa. Nem todas as mulheres sofrem todos os sintomas mencionados; algumas atravessam essa fase sem grandes desconfortos. Para aquelas que apresentam sinais, é elaborado um plano de tratamento personalizado”, comenta Maria da Guia de Medeiros Garcia, ginecologista da MEJC/UFRN (Maternidade Januário Cicco da Universidade Federal do Rio Grande do Norte), vinculado a Rede Esberh (Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares).

Como procedimento seria feito

Durante esse procedimento ambulatorial, um cirurgião remove por laparoscopia todo o ovário ou camadas da porção externa, que contém centenas de milhares de óvulos imaturos e dormentes. Esses tecidos são então armazenados em recipientes selados após serem congelados com um processo especializado, e mantidos em temperaturas que chegam a -196ºC.

“Com esse processo, é possível preservar a funcionalidade desse tecido para uso posterior. Em algum momento no futuro, o cirurgião reimplanta o tecido descongelado no paciente por laparoscopia. Dentro de três a 10 dias depois disso, esse tecido transplantado recupera as conexões com os vasos sanguíneos circundantes e restaura a função ovariana em cerca de três meses”, descreve Rodrigo Rosa, ginecologista especialista em reprodução humana e diretor clínico da clínica Mater Prime, em São Paulo.

No estudo, os pesquisadores criaram um modelo matemático com foco em mulheres saudáveis. O modelo considera fatores como a idade em que a paciente realiza o procedimento, o que desempenha um papel significativo no tempo que a menopausa pode potencialmente ser adiada.

“Quanto mais jovem for a pessoa, maior será o número de óvulos que ela terá, bem como maior será a qualidade desses óvulos. O modelo considera mulheres com idades entre 21 e 40 anos. Após os 40 anos, os dados mostram que é improvável que o procedimento atrase a menopausa para uma mulher com reserva média de óvulos, mas isso pode mudar com o desenvolvimento de métodos mais eficientes de congelamento e transplante no futuro, segundo os autores”, afirma Rosa.

O objetivo final, então, é que a pessoa ovule e continue produzindo hormônio mesmo estando em uma idade mais avançada.

Funciona?
“Ainda não há consenso: existem alguns trabalhos falando que o resultado é bom, mas outros mostram que é muito difícil de funcionar. Essa dificuldade viria da falta de toda a estrutura funcional do ovário —o método só implanta um pedaço”, explica Mariana Rosário, ginecologista, obstetra e mastologista, membro do corpo clínico do hospital Albert Einstein.

“Para, por exemplo, uma paciente fazer um estímulo para uma FIV, é uma opção, mas para manter o corpo produzindo hormônio, é um mais complexo.”

A técnica, de acordo com Rosário, não se compara a nenhum outro tratamento disponível atualmente. “A reposição hormonal, por mais que o hormônio seja bioequivalente ao do corpo humano, ainda é um hormônio externo. É totalmente diferente dessa ideia de induzir a produção natural.”

“Caso essa terapia venha a ser implementada, ela não substituirá a terapia hormonal, mas será uma alternativa”, complementa Lucia Costa Paiva, professora de ginecologia na Unicamp.

Possíveis riscos do tratamento em estudo
Os tratamentos existentes para aliviar os sintomas da menopausa são considerados mais simples e seguros do que o método em estudo, já que ele exigiria múltiplas cirurgias ao longo da vida.

“Um dos riscos é diminuir a reserva ovariana significativamente, já que a mulher não vai mais ter um pedaço do ovário”, afirma Rosário.

O ginecologista Rodrigo Rosa afirma que há outro ponto polêmico: o adiamento “eterno” da menopausa, o que levanta uma questão ética sobre tentar mudar o curso natural do corpo humano.

Ainda assim, os estudiosos da técnica dizem que há uma necessidade de novas opções de tratamento e que as pessoas já estão interessadas, incluindo mulheres que armazenam o tecido por motivos de fertilidade e agora consideram fazer o mesmo para adiar a menopausa.

Mariah Martelli

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